domingo, 30 de maio de 2010

Sopa de Pedra



A Lenda

A Sopa da Pedra é uma especialidade de Almeirim.(Região de Portugal)

Conta-se que o primeiro homem a fazê-la foi um frade lambareiro e espertalhão...

O frade era um andarilho e pedinte.

Chegou à porta de um lavrador, mas não lhe quiseram aí dar nada.

O frade estava com muita fome e disse:
- Vou ver se faço um caldinho de pedra.


E pegou numa pedra do chão, sacudiu-lhe a terra e pôs-se a olhar para ela, como para ver se era boa para um caldo.

A gente da casa pôs-se a rir do frade e daquela lembrança.

Diz o frade:
- Então nunca comeram caldo de pedra? Só lhes digo que é uma coisa muito boa.
Responderam-lhe:
- Sempre queremos ver isso.



Foi o que o frade quis ouvir.


Depois de ter lavado a pedra, pediu:
- Se me emprestassem aí uma panela...



Deram-lhe uma panela de barro.


Ele encheu-a de água e deitou-lhe a pedra dentro.
- Agora, se me deixassem estar a panelinha aí, ao pé das brasas...



Deixaram. Assim que a panela começou a chiar, disse ele:
- Com um bocadinho de unto é que o caldo ficava a primor!
Foram-lhe buscar um pedaço de unto.


Ferveu, ferveu, e a gente da casa pasmada para o que via.
O frade, provando o caldo:
- Está um nadinha insosso. Bem precisa duma pedrinha de sal.



Também lhe deram o sal. Temperou, provou, e disse:
- Agora é que, com uns olhinhos de couve, ficava que até os anjos o comeriam.



A dona da casa foi à horta e trouxe-lhe duas couves.


O frade limpou-as e ripou-as com os dedos e deitou as folhas na panela.

Quando os olhos já estavam aferventados, arriscou:
- Ai! um naquinho de chouriça é que lhe dava uma graça!...
Trouxeram-lhe um pedaço de chouriço. Ele pô-lo na panela e, enquanto se cozia, tirou do alforge pão e arranjou-se para comer com vagar. O caldo cheirava que era um regalo.
Comeu e lambeu o beiço.



Depois de despejada a panela, ficou a pedra no fundo.
A gente da casa, que estava com os olhos nele, perguntou-lhe:
- Ó senhor frade, então a pedra?
- A pedra... lavo-a e levo-a comigo para outra vez.





Conto Tradicional português recolhido por Teófilo Braga