domingo, 5 de setembro de 2010

MAESTRO AZEVEDO

Já ouviu falar em Joaquim Lourenço de Azevedo Filho?

Saiba um pouco da história deste ilustre personagem, nascido em Espírito Santo do Pinhal-SP, em 19 de novembro de 1872, filho de Joaquim Lourenço de Azevedo, português e  Maria José Magalhães de Oliveira Azevedo,  mineira e falecido em São João da Boa Vista, em 04 de janeiro de 1952, aos 81 anos de idade.

Era neto do ilustrado médico Dr.Joaquim Pereira de Magalhães, de Baependi, Minas Gerais.
maestro azevedo

Espírito culto e ao mesmo tempo aventureiro e irrequieto, aos 21 anos, prestando serviço militar, embrenhou-se com afinco em seus estudos musicais; encarou sua verdadeira vocação e desde cedo tornou-se um verdadeiro gigante da arte musical.




Aprendeu as  primeiras letras com o  professor João Julião( que  depois se  tornou  Tabelião na cidade  de Sao  Paulo) depois cursou na cidade de Mogi Mirim as aulas da Escola Boyle.

Seguiu a carreira comercial em São Paulo e Rio de Janeiro, onde em 1887, matriculou-se na Escola Militar, tendo, entretanto, partido para o Rio Grande do Sul, a expensas do Governo Federal, para se tratar, pois estava afetado de beriberi.

Lá no Rio Grande do Sul, foi aluno  da escola tática de  tiro do Rio Pardo,  onde obteve o curso prático de armas de cavalaria e infantaria.

Regressou do Rio Grande do Sul em 1890 e, então foi incluído, como o  posto de 1º Sargento, no 7º batalhão de Infantaria.

Tomou parte ativa no combate da Fortaleza   de  Santa Cruz, na revolta de Silvino de Macedo, nos dias 19, 20 e 21 de janeiro de 1892, revelando uma coragem e intrepidez que lhe valeram elogio na  ordem do dia, proferido pelo Marechal Eneas Galvão, Ministro da Guerra.

Na  Capital Federal (Rio de Janeiro), deslocado  de sua verdadeira vocação, que era a música,  ele procurou concentrar seus estudos nessa arte sublime, matriculando-se no Instituto Nacional de Música.

Foto Wikipédia: Instituto Nacional de Música(ex-Conservátório de Música, atual Escola de Música UFRJ)

Após ter cursado três anos as aulas desse estabelecimento,  foi escolhido para  regente do 9º  Regimento de Cavalaria, cargo  que desempenhou durante três anos.

Foi ainda o fundador da Banda Musical do Corpo de Bombeiros da  Capital Federal(Rio de Janeiro), abandonando-lhe a regência por motivo de  doença.

Por decreto numero 1687, de 16 de janeiro de 1897, foi elevado ao posto de Tenente honorário do Exército por relevantes serviços prestados à Pátria no espaço de dez anos


Em 1898, regressou à sua terra natal, Espirito Santo do Pinhal, onde se tornou professor de música e professor substituto no Grupo Escolar Almeida Vergueiro,  dirigido por Gabriel Ortiz.




Casou-se  em 20 de  junho de 1900, em São João da  Boa Vista, com  Maria  Cândida de Melo, conhecida como "Dona Sinhá", filha de Ana Magdalena e de Sabino Ferreira de Melo, com quem teve os filhos: Rita de Melo  Azevedo, "Bilu",professora; Maria de Lourdes de Melo Azevedo, casada com Edmundo  Dante, farmacêutico;  Magdalena  de Melo Azevedo, casada  com  João Batista Pinto, guarda-livros e jogador de futebol(Tigres da Mogiana); Thaís de Melo Azevedo, casada  com José Primola, gerente da famosa fábrica de Harmônica  Sartorello; Branca de Lourdes Azevedo e Sabino, que faleceu ainda criança e em sua memória escreveu  uma linda canção de ninar.

O Maestro Azevedo, como era por todos conhecido, permaneceu pouco tempo em sua terra natal, transferindo-se para São João da Boa Vista, atraído pelo progresso material e intelectual da cidade onde se tornou um dos grandes nomes da musica nacional, com produções que se impunham pela grandiosidade da arte e  magia da  sonoridade.

Mas não somente na arte musical que ele se destacou, pois era um homem deveras preparado que discutia, como jornalista, sobre diversos temas, tendo deixado vários trabalhos considerados verdadeiros tesouros poéticos e artísticos.

Em uma ocasião,  manteve  acirrada  polêmica  pelas colunas  do  jornal Correio Paulistano com um professor italiano, na qual se destacou  pela tremenda derrota que infringiu ao grande adversário.

Embora  tivesse uma existência de projeção e destaque, era um homem popular, admirado e benquisto, que se impunha pela elevação da sua apurada cultura e do seu linguajar fácil e agradável, tratando todos com humildade.

Homem preparadíssimo, foi jornalista, maestro e compositor.


Alegre, espirituoso, modesto e leal, era sempre bem recebido em qualquer roda.

De 1900 a 1910 foi a época das suas grandes composições: mais de 100 produções espalhadas por todos os lugares em que passou.

Do seu cérebro saíram valsas, maxixes, dobrados, peças sinfônicas, operetas, marchas marciais e tantos outros estilos. Peças como “Sabiá do Sertão” e “Soberana” alcançaram projeção internacional.

Em 1920, com a composição da marcha “Rei Soldado”, em homenagem ao monarca Alberto I, foi agraciado com a comenda da Ordem da Coroa da Bélgica.

No início de 1922, partiu para a cidade de Santos, onde passou a ocupar o cargo de 1º Tenente Maestro Regente da Banda do Corpo de Bombeiros, retornando tempo depois a São João da Boa Vista, onde continuou com extaordinário brilho e indiscutível competência, empunhando a batuta de diversas corporações musicais.

Tendo ficado vago o cargo de regência da Banda da Força Pública do Estado de São Paulo, em janeiro de 1927, com a aposentadoria do Maestro Capitão Antão Fernandes, os maiores maestros da época canditaram-se ao cargo, mas o maestro Azevedo foi o eleito, sendo nomeado no dia 18 de janeiro daquele ano.

Já em 1929, quando a banda do exército dos Estados Unidos foi para uma turnê na Europa, na Exposição Ibero-Americana de Sevilha, seu nome foi incluído entre os maiores compositores do mundo.

Assim, ao lado das composições de Maestros nacionais de grande nome, como Carlos Gomes, foram também os seu notáveis trabalhos incluídos 

Aos 60 anos, em 1932, durante o movimento constitucionalista denominado Revolução de 32, alistou-se como voluntário no Batalhão Ferroviário, ostentando a patente de 1º tenente.


Foi para Poços de Caldas, Minas Gerais, ocupando o posto de "Regente da Banda" nas décadas de 30 e 40 .

Destaca-se no grupo, à mesma época, a presença de outros grandes músicos como o trompetista Mário Costa, os bateristas Ataulpho Marques e Otaviano Rocha e também o clarinetista e saxofonista Antônio Beccaro que, como o Maestro Azevedo, dedicaram grande parte de sua existência em prol da música e desta banda (Poços) de mais de 90 anos.

Em 15 de janeiro de 1934, sua esposa , Maria Cândida de Melo Azevedo faleceu em São João da Boa Vista, aos 52 anos de idade, tendo este fato causado a mais funda impressão no seio de sociedade sanjoanense, onde era grandemente estimada e considerada.

Manteve-se ligado a São João da Boa Vista, cidade da qual jamais se afastou completamente, residindo nos últimos anos de vida nas proximidades da Estação do Girivá, fazenda esta pertencente aos familiares de sua esposa.

Foto Album Mogiana:- Estação Girivá  por volta de 1910


Recebeu uma justa homenagem do poder público de Mogi Mirim quando seu nome passou a designar uma das principais da região central da cidade.

Em São João da Boa Vista, pelo decreto 2428, de 08/12/208, projeto do vereador Lucas Octávio de Souza, atribuirão o nome do Maestro Azevedo à praça existente entre as Ruas Capitão Basílio José Teixeira, Francisco Marin e Capitão José Gomes Guimarães, no Jardim 1º de Maio.

Fontes:  site :  www.glosk.com/.

                site:  www.vivapocos.com/

                Livro :- Logradouros de São João da Boa Vista- Rodrigo Rossi Falconi

                              Imprensa Oficial do Estado de São Paulo-2010

O Maestro Azevedo

por Luís Nassif

Um dos personagens mais constantes de minha infância tinha nome de gente, mas era banda: a "Banda Municipal Maestro Azevedo", de Poços de Caldas, que tocava e ainda toca todo domingo de manhã no coreto do jardim do Pálace.

Algumas vezes, adolescente, eu ficava planejando com Wilson Danza, meu colega de pífaros na fanfarra dos Marista, o que iríamos fazer depois de aposentados. Voltaríamos para Poços e comporíamos dobrados para a banda. Wilson morreu cedo, em 1974, de morte besta quando cursava medicina em Belo Horizonte. Nos vinte anos de sua morte foi homenageado pela faculdade e, só então, soube que ele tinha deixado vários dobrados compostos, que nem sei se foram incorporados ou não ao repertório da nossa "furiosa".

O Brasil tem uma legado rico de dobrados e marchas militares. Anos atrás a coleção "Revivendo" reeditou alguns desses clássicos. Mas a história dessa música ficou restrita às corporações de bombeiros e das Forças Armadas, ou às bandinhas municipais. E, no entanto, muitas delas têm o vigor das composições clássicas do luso-americano John Phillip de Souza, o mais conhecido dos autores de dobrados do mundo.

Um dia mencionei aqui a banda e recebi uma carta de Joaquim Edmar Azevedo Zagatti, neto do maestro Joaquim Lourenço de Azevedo Filho, o "maestro Azevedo", com vários recortes de jornais da região sobre sua morte, em 1952.

Por elas, fico sabendo que o maestro foi autor de uma canção de ninar fulminante

–"Dorme, dorme filhinho / meu anjinho inocente / dorme, queridinho / que a mamãe fica contente". Havia uma segunda parte tristíssima: "O mundo é mesmo triste / eu bem sei, posso afirmar / Ainda há quem resiste / dores de não suportar".

Lembrei-me de imediato dos meus 5 anos, resistindo ao sono, minha vó Martina me pegando no colo e cantando essa canção. Eu só balbuciava "essa não, vó, que eu durmo", e cataplum! –dormia na hora.

Maestro Azevedo era de Espirito Santo do Pinhal, vizinha de Poços.

Nasceu em 1872, filho de um comerciante português. Aos 16 anos entrou para o exército e teria feito carreira, não tivesse aderido à revolta federalista e monarquista do primeiro tenente Isidoro Dias Lopes, em 1893.

Os federalistas foram esmagados pelos florianistas, o maestro Azevedo ficou alguns meses prisioneiros da fortaleza de Santa Cruz, no Rio, e desistiu da carreira. No curto período em que permaneceu no Exército, o maestro dirigiu a famosa Banda do Corpo de Bombeiros do Rio, substituindo o maestro Anacleto Freire.

Deixou um repertório apreciável de composições, incluindo polcas, tangos, e uma opereta – a "Sabiá do Sertão"—espalhada por todo o estado pela Companhia Sebastião Arruda. A canção de ninar de minha avó fazia parte dessa opereta.

Mas o forte eram mesmo as marchas e dobrados.

Em 1920 compôs a marcha "Rei Soldado" , em homenagem ao rei Alberto Primeiro, da Bélgica, que visitava o Brasil.



O maestro também venceu concursos na Espanha, na Grande Exposição de Sevilha, que prendeu a atenção do mundo inteiro.

A delegação brasileira compareceu com composições da nata dos músicos eruditos brasileiros, de Carlos Gomes, Leopoldo Miguez, Alexandre Levy, Lorenzo Fernandes a Alberto Nepomuceno, entre outros. E com duas obras do maestro Azevedo, entre as quais o "Sabiá do Sertão" e o "Dobrado à moda paulista". Foi o vencedor da competição.

Lá pelos anos 20, o maestro entrou em um concurso de piano no Rio de Janeiro, que provocou o maior rolo na época, pela desclassificação de inúmeros candidatos regionais. Seu Aguirre, meu ex-sogro, já tinha me contado essa história, mas eu não havia ligado ao maestro. Era voz corrente que o vencedor havia sido o maestro Azevedo. Mas o prêmio havia sido feito de encomenda para o pianista Arnaldo Estrela, o mais famoso da época. Daí a grande polêmica que se seguiu.

O maestro morou também muitos anos em Mogi Mirim, em São João da Boa Vista, Santos, e, finalmente, em Poços, onde se tornou regente oficial da Banda Municipal, funcionário do governo do estado, aposentando-se no posto.

Que tal as três cidades se reunirem, recuperarem a história, e juntarem as obras do maestro?"



Banda Maestro Azevedo - Banda Maestro Azevedo, tem sua história publicada no livro "Tesouros do Brasil, publicado pela Fiat.

A banda existe há 91 anos e já realizou mais de 10 mil apresentações, promovendo lazer e cultura para idosos, crianças e turistas.

Em 1930 , o grande maestro Villa-Lobos fez uma turnê artística para a difusão da música pelo interior de São Paulo, Minas Gerais e Paraná, formando uma caravana,  Lucilia(sua esposa),  Antonieta Rudge, a cantora Nair Duarte e o pianista Sousa Lima  e foram visitar 68 cidadezinhas.

Dessa excursão nasceu a música  "Caixinha de Música Quebrada" dedicada a Sousa Lima e também, a idéia do "Trenzinho do Caipira".

O compositor propôs a um grupo de jovem, que dizia que não sabia cantar, um trecho de música a quatro vozes e escreveu sobre uma mesa de mármore uma frase de dezesseis compassos que seria a primeira voz numa segunda mesa escreveu a segunda voz e o mesmo para a terceira e quarta voz. Ensaiou por voz e depois juntou-as.

Os rapazes achavam-no um grande professor e um mágico encantador ...

Havia bandas que comoviam o coração do nosso Villa . E uma delas foi a regida pelo Maestro Azezedo, deixando uma foto com dedicatória:



"Minha grata lembrança da Comitiva da Excursão Villa-Lobos - Souza Lima ao Maestro Azevedo, maior vulto artístico que eu encontrei em São João da Boa Vista.

Com toda simpatia.

H.Villa-Lobos S.João da Boa Vista, 13/03/1931"




    A acreditar em si mesmo e de seguir seus sonhos, ter metas na vida e uma unidade de sucesso, e cercar-se com as coisas e as pessoas que o fazem feliz - este é o sucesso .